quinta-feira, janeiro 26, 2006

E a culpa da derrota da esquerda vai para...

... não sei, não tenho a certeza, nem tenho qualquer tipo de poder divino que me permite identificar O culpado ou OS culpados.
A certeza que tenho é que faltou conteúdo político à esquerda nestas eleições e essa lacuna pode explicar em parte o resultado. Faltaram sobretudo ideias novas à esquerda e faltou diversidade política em relação a recentes eleições. A esquerda apresentou, nada mais, nada menos, que três candidatos repetentes: Soares, Jerónimo e Garcia Pereira. Como temi no momento em que foram anunciadas estas candidaturas, daqui não veio nada de novo. Soares foi o mesmo dos últimos anos, desde o seu mandato de eurodeputado, é um político que acompanha pouco o que de interessante vai acontecendo na política, repete ideias batidas, foi a um Fórum Social, foi a Davos e voltou de lá com o discurso da mediana. O meu hipotético presidente de esquerda tem que surfar mais perto da crista da onda, porque este país já é atrasado que baste. De Jerónimo e de Garcia Pereira veio o habitual zero de novidade política.

Quanto a Louçã, apesar de não ser repetente vinha de duas voltas ao país em outras tantas campanhas. É certo que Louçã foi o que esteve melhor nos debates a dois, isto porque é um dos poucos políticos nacionais que leva a sério a sua preparação política, Louçã estuda, é disciplinado e é rigoroso. Aquilo não é dos treinos nas "reuniões trotskistas em que se debate até à exaustão" como fantasiou Pacheco Pereira no Público. Muitas das reuniões trotskistas em Portugal até são bem fraquinhas, discute-se mais a vírgula do estatuto X e o terceiro suplente da lista Y. Mas os bons debates de Louçã não conseguiram eliminar uma sensação de déjà vu que se instalou entre algum do eleitorado do Bloco. Uma parte do eleitorado BE gosta de diversidade e de plasticidade política. Por muito que se goste de Louçã, muitos preferiam ver a área do Bloco representada por outros personagens, talvez com menos brilhantismo que Louçã, mas que trilhassem novos canais de debate político. Depois pesou em tudo isto o profundo conhecimento mútuo do discurso e do passado de Louçã, dos candidatos repetentes de esquerda e do repetente de direita. Restava a novidade Alegre...

A candidatura de Alegre poderia ter um efeito refrescante nestas eleições, mas não teve. Foi uma desilusão. Foi um retrato do que há de mais conservador no PS. Uma esquerda com tiques anti-europeus e de um nacionalismo inconsequente. Domingo, antes de saírem os resultados, já tinha decidido que não iria às urnas se houvesse segunda volta. Não voto em políticos de esquerda que proferem o que Alegre profere sobre a Europa. É sinal de que não percebe nada do que é hoje o mundo, e um político que não percebe minimamente o que se passa no mundo não pode ser presidente de um país.

O que faltou nestas presidenciais?
À esquerda faltou vanguardismo, faltou ambiente, faltou ordenamento do território, faltou regionalização, faltou laicidade e sexualidade, faltou ciência e tecnologia, faltaram as grandes questões internacionais essenciais a uma presidência, faltou Europa, faltou debater o Modelo Social Europeu, faltou ONU, faltou NATO, faltou o debate sobre o Exército Europeu, faltou PALOP e faltou uma campanha assente num programa e não no ataque ao pecadozinho político do adversário.
E faltaram outros candidatos... Arrisco tardiamente estes nomes que poderiam ter tornado o debate bem mais interessante: Assunção Esteves (PSD), Lobo Xavier (CDS), Carlos Amaral Dias (bastava trocar com Soares na respectiva candidatura) e José Manuel Pureza (BE). Há também uns bloguistas que dariam bons candidatos, mas recuso-me por enquanto a engraxar-lhes o ego.

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