quinta-feira, março 17, 2005

Energia nuclear à bruta!

A entrada de Vital Moreira "Interditos" é claramente inspirada num tipo de opiniões que ultimamente têm andado a circular nos meios de comunicação social portugueses sobre a opção nuclear (leia-se fissão nuclear). A maior parte, tratam-se de opiniões verdadeiramente à papo seco sobre as opções energéticas do país, pois não têm em conta nem a dimensão do nosso país, nem o contexto europeu em que nos encontramos, nem qualquer rigor científico.

Portugal não tem capacidade tecnológica nem recursos humanos para nos lançarmos sozinhos na aventura nuclear. Seria por isso não só uma tarefa para as calendas gregas, como teríamos que hipotecar o traseiro para construirmos pelo menos duas centrais nucleares, para que a aventura nuclear pudesse ser viável. Na minha opinião só o poderíamos fazer em conjunto com o plano nuclear espanhol ou outro da mesma dimensão (talvez o da Atlântida).

No contexto europeu, se entrarmos na produção de energia nuclear tradicional (por fissão), na minha opinião isso seria um tremendo erro estratégico. A Europa no seu 6º Programa Quadro no capítulo da energia nuclear, atribui cerca de 80% dos fundos para a investigação e desenvolvimento da produção de energia nuclear por FUSÃO. Teoricamente esta forma de produção de energia não tem subprodutos perigosos e seria de alto rendimento. Apesar da produção de energia por fusão ainda estar longe de ser uma realidade, o que a EURATOM está investir no desenvolvimento da fusão é um sinal inequívoco de que a Europa quer acabar ou reduzir ao máximo a produção de energia nuclear a médio ou a longo prazo. Os alemães estão a fechar todas as centrais nucleares e os italianos estão a reduzir ao mínimo o seu programa de produção por fissão nuclear. Os restantes 20 % da verba da EURATOM para as centrais nucleares destinam-se quase exclusivamente para manutenção e tratamento de resíduos e não para a investigação.

A enveredarmos pela energia nuclear por fissão, manteríamos a nossa tradição de escolhermos sempre as piores opções: em vez de escolhermos as inovações (fusão), escolheríamos as velhas tecnologias (fissão) e em vez de escolhermos tecnologia não poluente (fusão) escolheríamos a opção mais arriscada e poluente (fissão).
Quando Vital Moreira invoca um tabu sobre o assunto, na minha opinião a haver tabu seria mais um tabu sobre a nossa cultura e a nossa mentalidade. O que interessaria saber é a razão pela qual somos uns ases a fazer tudo ao contrário e a repetir os erros dos outros.

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