sábado, julho 31, 2004

O equívoco do Iraque explicado por Richard Clarke

"Instead of addressing that threat with all necessary attention it required, we went off on a tangent, off after Iraq, off on a path that weakened us and strengthened the next generation of Al-Qaedas. For even as we have been attriting the core Al-Qaeda organization, it has metastasized. It was like a Hydra, growing new heads. There have been far more major terrorist attacks by Al-Qaeda and its regional clones in the thirty months since September 11 than there were in the thirty months prior to that momentous event. I wonder if Bin Laden and his deputies actually planned for September 11 to be like smashing a pod of seeds that spread around the world, allowing them to step back out of the picture and have the regional organizations they created take their generation-long struggle to the next level"

"Against All Enemies", Richard Clarke, Free Press, 2004, pag. 286.

sexta-feira, julho 30, 2004

Richard Clarke contra toda a ignorância

O Nuno do Aba de Heisenberg começou a ler a recente tradução do livro de Richard Clarke "Contra todos os inimigos", diz o Nuno "isto promete". Pois é, como é diferente ler o relato de quem andou anos atrás da Al-Qaeda - em tempos em que a organização era desvalorizada pelos Democratas e ignorada por Republicanos - e ler depois os nossos cronistas a repetirem a propaganda de Rumsfeld, a errarem e até inventando factos sobre os quais nunca se debruçaram a sério. O desmantelamentos do atentado de Estrasburgo pelas polícias alemã e francesa e do atentado do Milénio nos EUA pela equipa de Clarke são constantemente omitidos, o problema é que na ansiedade do comentário nem se informam devidamente. Sobre as armas de destruição em massa houve quem visse as armas daqui de Portugal, mesmo com o relatório de Blix à frente do nariz, viram o que Blix e os outros inspectores não viram! Depois de ler o livro de Clarke e o de Blix ("Irak: les armes introuvables") fico com a sensação que os nossos comentadores de política internacional ou são maus ou são mal intencionados.

quinta-feira, julho 29, 2004

Mundo de Aventuras VII

Na minha primeira noite em Pequim acordei com um ruído em crescendo, típico de uma multidão agitada que se multiplica rapidamente, olhei para o relógio eram 6 da manhã. Ouviam-se vozes desgarradas e sentia que havia uma circulação intensa de pessoas e de veículos. Levantei-me de cama e pensei para mim próprio: "É hoje a revolução!". Fui a correr para a janela, abri os cortinados e...não via absolutamente nada, estava completamente ofuscado pela luz do dia. Nessa altura pensei que se fosse de facto a revolução que a China tanto espera, seria uma oportunidade fantástica para assistir a um acontecimento histórico importantíssimo. Mas também temi pela minha pele. Assim que recuperei a visão, voltei a pôr os pés na Terra, afinal toda aquela agitação era um simples mercado de rua! A China tem um único fuso horário para todo o seu extenso território (GMT+8), como Pequim fica num extremo da China, os seus horários são muito particulares. Daí a estranheza inicial que me causou toda aquela agitação às 6 da manhã.

(Pequim, China, 1997)

Mundo de Aventuras VI

quarta-feira, julho 28, 2004

O Sudão esquecido recordado por Lévy em 2001

Pouco depois do 11 de Setembro Bernard-Henri Lévy (BHL) lançou "Réflexions sur la Guerre, le Mal et la Fin de l´Histoire" que continha uma parte intitulada "les damnés de la guerre" dedicada ao que ele chamava os esquecidos da história. Entre os esquecidos da história estavam os Angolanos, os Sri-lanqueses, os Colombianos, os Ruandeses e os Sudaneses. Fiquei chocado com o que li na altura sobre o Sudão, com o esquecimento. Quando se começou a debater a urgência de intervir no Iraque em 2002 ouvi em Portugal não raras vezes pessoas informadas e com cargos políticos destacados a pintar o cenário no Iraque como se fosse o único problema humanitário do mundo, ignorando completamente as situações gravíssimas que BHL denunciou. A alguns destes políticos enviei pelos canais possíveis algumas notas em que referia esta situação do Sudão como uma situação muito mais urgente do que a do Iraque. Transcrevi parágrafos como estes do livro de BHL:

"...cette guerre, la plus ancienne du monde, qui a déjà fait deux millions de morts (davantage que la Bosnie, le Kosovo, le Rwanda réunis), quatre millions et demi de déplacés (trois Sud-Soudanais sur quatre)..."

"...la Greater Nile Petroleum Operating Company, le consortium regroupe la firme canadienne Talisman Energy, des intérêts chinois et malais ainsi que la compagnie nationale Sudapet. Et nous avons eu la confirmation de ce que les ONG, Amnesty International, le gouvernement canadien lui-même, soupçonnent depuis des années mais que nient farouchement les compagnies pétrolières et l'Etat. A savoir que le gouvernement "nettoie" systématiquement le terrain, dans un périmètre de 30, 50, parfois 100 km, autour des puits de pétrole; que la moindre concession pétrolière signifie des villages harcelés, bombardés, rasés, et des colonnes de pauvres gens chassés de chez eux..."

"Guerre oubliée ou cachée? (...) l'Occident des pétroliers ne porte-t-il pas, pour un coup, une responsabilité écrasante? (...) que l'on agisse avec ce pétrole-ci comme on l'a fait avec celui de Saddam Hussein, que l'on montre aussi déterminé..."

Os nossos políticos continuaram para bingo em relação a Saddam repetindo a propaganda de Rumsfeld e companhia - que hoje se sabe ser falsa - até ao dia da invasão do Iraque, ficando assim o Sudão no esquecimento absoluto em Portugal. Em França BHL bateu recordes de vendas com este livro contribuindo para uma maior maturidade da opinião pública francesa que mais tarde rejeitou e bem a intervenção no Iraque.

terça-feira, julho 27, 2004

O fogo é a nossa Al-Qaeda

Desde os resquícios dos devaneios do Verão Quente, Portugal não sofreu qualquer atentado terrorista, e mesmo esses eram atentados bastante rudimentares. Mas todos os anos o nosso território é devastado por incêndios que são muito mais destrutivos do ponto de vista material do que qualquer atentado terrorista jamais efectuado. Só o ano passado ardeu uma área equivalente à área do Luxemburgo!!!
No entanto a resposta do governo português aos incêndios foi muito menos empenhada do que a resposta dada ao terrorismo islâmico. No último ano, gastaram-se milhões na segurança do Euro2004 e dos aeroportos para impedir um atentado terrorista em Portugal, cuja probabilidade de acontecer é baixa. Pelo menos muito mais baixa do que a probabilidade de acontecerem incêndios de grandes proporções, esses sim muito mais destrutivos do que qualquer atentado que algum grupo terrorista possa executar em Portugal. As incoerências são gritantes:

- Enviámos soldados para o Iraque onde não existiam terroristas da Al-Qaeda e contribuímos para atrair a Al-Qaeda para o Iraque, numa missão de elevadíssimo custo financeiro. E quantos novos guardas florestais e funcionários da prevenção mandámos para a nossa área florestal? O investimento em material sofisticado que adquirimos para o Iraque teve equivalente na luta contra os fogos?

- Mandámos aviõezinhos sobrevoar os estádios para garantir a segurança dos jogos do Euro2004 (nem escaparam os jogos-treino) e quantos aviões temos a sobrevoar as nossas florestas?


- Controlámos a identidade de milhares de cidadãos estrangeiros que entraram no nosso país e quantas propriedades florestais fiscalizámos no último ano? Quantas cumprem as normas básicas de segurança?

- Inspeccionámos milhares de malas de viagem de cidadãos que atravessaram as nossas fronteiras e quantos dos nossos parques naturais e florestas foram atravessados por camiões e pessoas na posse de material e compostos perigosos para a nossa floresta sem que nenhuma inspecção fosse efectuada?

A descontracção, a pasmaceira e a falta de interesse deste governo (e dos anteriores) chocam-me perante a gravidade do problema. O que se passa em Portugal é pior do que todos os anos chocar um avião contra um arranha-céus. E nós deixamos que todos os anos isso aconteça, já nos habituámos. No terceiro mundo também é assim, as pessoas habituam-se aos problemas graves, ninguém se incomoda e estes eternizam-se.

O exemplo da Europa central
No Verão o clima da Europa central é menos propício a incêndios do que em Portugal, no entanto o trabalho feito na prevenção é muito mais sério do que no nosso país. Quando vivi em Estrasburgo, durante os meus passeios pela Alemanha reparei que qualquer propriedade onde houvesse uma pilha de toros de madeira, essa pilha de toros estava a ser constantemente regada. Em Portugal vejo o contrário: pilhas de toros de madeira seca prontinhas a pegar fogo. O ano passado na Eslováquia (um país verde e fresco no Verão) houve um incêndio numa das florestas. O governo eslovaco lançou de imediato a interdição de circulação de pessoas nas florestas em que não houvesse um controlo apertado das autoridades florestais. São estes pequenos detalhes que distinguem os países atrasados e abandalhados como Portugal dos países da Europa central.

Relacionado: ler na Aba de Heisenberg.

segunda-feira, julho 26, 2004

Hej, slniečko horúce

Hej, slniečko horúce, nech mi neuhorí
hej tá moja biela tvár.

Hej, a ked' mi uhorí, hlávka ma zanolí,
hej, čo mi ju zahojí.

sexta-feira, julho 23, 2004

O programa nuclear iraquiano vs. alarmismo

As quantidades mínimas de material consideradas pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) como significativas para serem utilizadas em armas nucleares são: 8 kg de plutónio e 25 kg de urânio 235. Durante o curso das primeiras inspecções no Iraque em 1991, descobriu-se que o regime iraquiano tinha intenção de produzir armas nucleares, mas graças à sua fraca capacidade industrial tudo o que conseguiu produzir foram:

- ~ 2,5 g de plutónio
- 0,5 kg de urânio (Dados da AIEA)

Enriquecidos a uma taxa média de 4%. Para se fazer uma bomba, a taxa de material enriquecido deverá ser pelo menos de 80%.

Estamos muito longe das perspectivas alarmistas que intoxicaram a opinião pública mundial antes da intervenção americana no Iraque. Até porque depois desta descoberta, que foi feita em 1991, o Iraque perdeu ainda mais alguma da sua fraca capacidade industrial. Para ilustrar o clima alarmismo criado não resisto a transcrever esta passagem de 3 de Abril de 2003 de um artigo publicado no Publico por Pacheco Pereira:

"...regimes como o iraquiano, que, de há 20 anos a esta parte, não faz outra coisa senão armar-se com armas cada vez mais poderosas..."

Ao contrário do que diz Pacheco Pereira, desde 1991 o regime iraquiano não se armou com armas cada vez mais poderosas. Mas curiosamente foi há 20 anos que o regime iraquiano comprou as armas mais poderosas que alguma vez deteve. Há cerca de 20 anos, o Iraque comprou armas químicas a empresas americanas e o governo americano forneceu imagens de satélite ao regime iraquiano do norte do Iraque e do Irão. As imagens de satélite do Irão foram úteis para gazear as tropas iranianas e as imagens de satélite do norte do Iraque serviram para gazear as aldeias curdas...

quinta-feira, julho 22, 2004

A política ambiental Santanista

Na Figueira foi o que se vê nestas fotografias. A Serra da Boa Viagem está completamente escavacada e vendida à especulação imobiliária para pagar as dívidas da Câmara deixadas por Santana Lopes (tal como em Lisboa). Nem os incendiários, que tentaram por diversas vezes incenerar a Serra para construir à vontade, conseguiram ser tão eficazes. Como já foi muitas vezes repetido, Santana não precisa de um ministro do ambiente com competências técnicas, precisa sim de um ministro capaz de tomar decisões políticas. Ou seja, Nobre Guedes só tem que dizer que sim a atentados ambientais como os que mostro aqui nestas fotos.


O delapidar da Serra da Boa Viagem. Nesta zona existia antes um pinhal cerrado. Para os que conhecem a Figueira, este terreno fica em frente ao Psidónio.

quarta-feira, julho 21, 2004

Um ano! (em actualização)

Este relógio de água virtual assinala um ano de existência. Obrigado a todos os nossos leitores.

Uma das coisas que mais me agrada após um ano de Klepsýdra é que recebemos cerca de 14% de visitas originárias do estrangeiro. Por isso aqui vai uma saudação especial aos nossos leitores que andam lá fora a lutar pela vida.
O Brasil esse país que nunca visitei e onde tenho família é o que nos oferece o maior número de visitantes. Falo pouco do Brasil. Já ando há meses para falar sobre os filmes "Central do Brasil" e "Cidade de Deus", são excelentes.
Nos EUA temos muitos leitores fieis, entre os quais esse simpático conimbricense que tem um chapéu de chuva com a bandeira da União Europeia. ;)
Pusinky para a nossa leitora diária na Bélgica.
Obrigado aos leitores mais ou menos diários em Espanha, em França, na Suiça, no Luxemburgo, em Moçambique (este anda armado em grevista, deveria era voltar à blogosfera), na Polónia, na Formosa, na Finlândia e no Reino Unido.

Maratona
Quando a Klepsýdra foi criada sabia que estava a iniciar uma longa maratona e por isso convinha não começar a sprintar para não desistir depois da primeira curva. E cá estamos um ano depois. O Nuno e o Gregor por razões diferentes, mas importantes, fizeram uma pausa. Tal como há um ano continuo a ter muitos assuntos para escrever na Klepsýdra, o grande problema é ter tempo para escrever tudo o que quero partilhar com a blogosfera, e sobretudo escrevê-lo bem. Dá-me um grande prazer escrever longos textos de reflexão, daqueles que demoram muito tempo a escrever e a corrigir, e que depois muito poucos lêem.

Agradecimentos
Antes de agradecer aos vários blogues que nos enviaram simpáticas mensagens de felicitações, tenho a dizer que aprendi muito durante o último ano com um conjunto de blogues que fui lendo com alguma regularidade, alguns deles até muito pouco lidos.
Empatia, Ideias Soltas, Hora Absurda II, Rua da Judiaria, Olho do Girino, Welcome to Elsinore, Ma-Schamba, Sob a Estrela do Norte, A Aba de Heisenberg, Local e Blogal, 137, O Quarto Segredo da Fátima, Pecola, Jaquinzinhos, Fénix, Daedalus, Vila Dianteira, Adufe...

terça-feira, julho 20, 2004

Stephen Hawking dá novos horizontes aos buracos negros

Amanhã em Dublin, Stephen Hawking apresentará a sua nova teoria sobre buracos negros, onde Hawking irá fundamentar a hipótese de os buracos negros afinal deixarem escapar alguma informação para o exterior, em vez daquele objecto que destrói tudo o que é atraído para o seu interior. A comunidade científica espera com ansiedade o dia de amanhã.

Baía no Olimpo


O melhor guarda-redes da Europa e Jorge Costa, o jogador a quem Octávio Machado tinha passado uma certidão de óbito há três anos atrás. (Foto do sítio da UEFA)

O título de melhor guarda-redes da Europa atribuído pela UEFA a Vítor Baía não me espanta. O prémio de melhor guarda-redes da Liga dos Campeões atribuído pela Gazzeta dello Sport era já um prenúncio de grandes prémios internacionais para o Vítor lá para o final de 2004. Afinal nem foi preciso esperar tanto. Ele merece porque foi de facto o melhor no velho continente em 2004. Foi de longe o menos batido no campeonato português (que tem pouca relevância) e não sofreu qualquer golo nos dois jogos das meias-finais e na final da liga dos campeões, tendo tido um papel activo e decisivo para a vitória do FC Porto. Ao ganhar a terceira taça europeia diferente Baía increveu o seu terceiro record na Associação de História e de Estatística de Futebol, que é um record inédito entre guarda-redes. Os outros dois são o record de tempo sem sofrer golos no campeonato português e em fases finais de campeonatos da europa em 2000 (onde o seu record comporta um penalty defendido contra a Turquia). Este feito não passou despercebido a quem gosta e a quem percebe de futebol na Europa. Em Portugal é o normal, destila-se ódio.
O título deste texto tem um duplo sentido. Espero que José Romão amanhã não se engane na convocatória. Os deuses do Olimpo querem ver Baía a jogar ali junto à sua morada, a abrilhantar os Jogos Olímpicos do país dos filhos de Helena.

Passei muitas horas no banco
Como diz o Bruno do Avatares, Ricardo é uma pessoa muito simples, o que o torna muito vulnerável a más companhias que são autênticos destiladores de ódio anti-Porto. Para sacar mais algum à custa da ingenuidade do Ricardo, essas companhias escreveram um livro em nome do mesmo Ricardo, onde este considera «lamentável» que Vítor Baía declarasse que aqueles «mereciam ter jogado no Mundial deviam ter provado isso nos treinos». Vítor Baía não poderia ter dito mais nada. Em todos os desportos é assim. Os treinos servem para trabalhar e escolher as equipas que vão jogar no fim de semana. Eu passei muitas e muitas horas no banco de suplentes quando joguei basquete. E porquê? Porque era poste e durante grande parte da minha carreira tive colegas que faziam a posição de poste melhor do que eu. E como devem jogar os melhores, eu ficava no banco. Não é agradável estar no banco, mas eu sempre o aceitei sem nunca me chatear com os colegas que me tiravam o lugar. Ricardo em vez de ficar feliz por nos ter oferecido aquele momento bonito em que marcou um penalty (e esquecer o pesadelo dos cruzamentos para a pequena área, onde esteve mal), optou por abandonar o seu perfil de bebé chorão injustiçado para se transformar numa figura arrogante. Depois deste prémio atribuído a Baía pela UEFA, Ricardo faz figura de triste escusadamente.

segunda-feira, julho 19, 2004

Vila Dianteira

19 ministros e 17 são de Lisboa, um do Porto e outro dos Açores. Está certo...
 
A Klepsýdra tem um ministro da Vila Dianteira, e a Vila Dianteira faz um ano!

Portugalistão

19 ministros e 17 são homens. Só faltam os bigodes para sermos uma república islâmica. Graças às nossas excelentes relações com o regime islâmico wahabita da Arábia Saudita - a quem vendemos material militar e títulos de dívida pública - acho que até conseguiríamos facilmente entrar na União de países que apoiam a Al-Qaeda e simultaneamente combatem o terrorismo no Iraque: Paquistão, Arábia Saudita, Yemen, etc.

sexta-feira, julho 16, 2004

Nobre Guedes? Belisquem-me! Estou a ter um pesadelo!

Belisquem-me, devo estar a sonhar! Nobre Guedes Ministro do Ambiente é anedota não é?
Uma das áreas que deveria ser prioritária em Portugal, o ambiente, vai ser gerida por uma pessoa que não tem qualquer sensibilidade por questões ambientais, que se está a borrifar para o ambiente, que nunca reflectiu nem elaborou qualquer documento sobre questões ambientais, que não tem qualquer formação nestes assuntos e que muito provavelmente é uma pessoa avessa às medidas ambientais modernas que Portugal necessita de implementar urgentemente. Isto é de uma irresponsabilidade a toda a linha. Eu gostava de ver a reacção do nosso país de juristas e advogados se um dia fosse nomeado para ministro da justiça um químico industrial ou um físico teórico. De certeza que começavam a trepar às paredes, é o que me está a apetecer fazer...  

Nota histórica sobre inspecções e proibições de armamento

1899- A Declaração de Haia proibia a utilização de balas dum-dum (que se espalmavam dentro do corpo humano, provocando feridas extremamente dolorosas), gás asfixiante e o "lançamento de projécteis ou explosivos do alto de balões ou por outros modos análogos inovadores". Esta última interdição só teve a validade de cinco anos.

1925- O Protocolo de Geneva proibia o emprego de gás e de "meios de guerra bacteriológica".

Nenhum dos acordos de 1899 e de 1925 previa inspecções ou acções de verificação de cumprimento dos tratados. O receio de represálias foi suficiente para que estes acordos fossem minimamente respeitados.

1959- O Tratado do Antárctico foi o primeiro tratado sobre o controlo de armamento que previa inspecções internacionais. Este tratado tinha como objectivo a proibição da utilização do território da Antárctida para fins militares. Eram proibidas bases e manobras militares, ensaios de armas e explosões nucleares. Todas as regiões do Antárctico e instalações deveriam estar abertas em permanência a inspectores e observadores internacionais.

quarta-feira, julho 14, 2004

Aplausos para Fahrenheit 9/11

Vi ontem em Bruxelas "Fahrenheit 9/11", o filme vencedor da Palma de Ouro deste ano do Festival de Cannes (júri presidido pelo realizador americano Quentin Tarentino). A sala estava cheia e o público era verdadeiramente internacional a avaliar pelas diferentes línguas que se ouviam na sala antes do filme começar. No final, o filme de Michael Moore mereceu um estrondoso aplauso de toda a sala.

O mérito de Moore é a denúncia e o relembrar de factos importantes que foram abafados pela propaganda da Casa Branca. Aqui vão alguns dos meus momentos preferidos do filme.

- Moore passa o mítico aperto de mão entre Rumsfeld e Saddam Hussein.
- Moore mostra uma série de apertos de mão e palmadinhas nas costas entre o pai de George W. Bush e a família real saudita mostrando de seguida uma das muitas decapitações públicas que ocorreram na Arábia Saudita durante o período dos referidos apertos de mão.
- Moore mostra a visita de uma delegação de talibãs ao Texas em 2001 para negociar com empresas ligadas à família de Bush (esta cena é linda!).

O filme de Moore transpõe para imagens boa parte do seu último livro "Dude, where’s my country?". Para quem leu os últimos livros de Bernard-Henry Lévy, de Hans Blix ou de Richard Clarke que abordam o mesmo tema, o filme de Moore convida-nos a rir (para não chorar) com as mesmas indignações que angustiaram estes autores a escrever o que lhes ía na alma sobre as opções da administração Bush. Passa pela tela muito do livro de Clarke, que analisaremos em breve em mais pormenor. Moore consegue fazer rir e ao mesmo tempo consegue acordar o espectador, libertando-o do sonífero propagandístico da ameaça iraquiana e mostra-nos muito daquilo que realmente interessa analisar sobre as opções da administração Bush. A não perder!

segunda-feira, julho 12, 2004

Quando tenho vergonha de Portugal

Nao encontrar jornais portugueses à venda no estrangeiro em cidades onde existem muitos portugueses a viver ou a passar ferias é algo que me envergonha profundamente. Por exemplo, em França onde a comunidade portuguesa é das mais numerosas entre as comunidades estrangeiras, geralmente é mais facil encontrar um jornal italiano, polaco, turco, russo ou de um pais do magrebe do que jornais portugueses. Uma vez, em pleno Agosto passei por Benidorm que estava apinhada de portugueses de férias. Corri os quiosques todos. Havia todo o tipo de jornais britanicos à venda, os jornais principais da França à Turquia mas de Portugal nada! Lembro-me de um quiosque suiço onde encontrei jornais portugueses: a Bola e o Crime... Hoje, no centro de Bruxelas depois de penar por uma série de quiosques de jornais estrangeiros encontro um jornal portugues: o 24 Horas...o jornal espelho do atraso portugues. Pronto, la vim eu para a internet para ficar ao corrente do que se passa na lusitania.

Quando comecei a ler o que se passou nos ultimos dias percebo melhor o SMS que o Gregor Samsa me enviou enquanto andava por Veneza: "pa, tu fica por ai, nao voltes!". Santana Primeiro Ministro, Paulo Portas Ministro da da Defesa, Madail Presidente da FPF e Scolari treinador das selecçoes, de facto o pesadelo nao poderia ser pior. Ou se calhar podia: Santana Primeiro Ministro acumulando com o cargo de Presidente da FPF, assim seriamos a primeira republica nao laica e de confissao futebolistica!

Pax tibi Marce, evangelista mevs

No Palacio dos Doges descubro uma inscriçao do seculo XIX que anuncia a aprovaçao, por mais de 600 mil votos a favor e 69 votos contra, da inclusao da Serenissima Republica no entao reino de Italia. Se eu la estivesse votaria contra. Mas isto sou eu a delirar um século e meio depois. Veneza encerra em si mais historia e mais historias que maior parte dos paises do mundo. Se temos Monaco, Liechtenstein, Sao Marino e Andorra porque nao poderiamos ter a Serenissima Republica de Veneza? Ja agora, sem se tornar um paraiso fiscal. Seria apenas um paraiso cultural e cientifico, uma cidade de troca de conhecimento onde este nao pagasse imposto.

sexta-feira, julho 09, 2004

Geraçao de ouro, treinadores de latao

Começou ha 11 anos. Vi-os em Milao a darem espectaculo. Precisavamos de ganhar. Perdemos, mas saiu dali uma grande equipa, eram jovens. Desde entao so lhes calhou na rifa treinadores mediocres. A sorte continua. O Otto com os nossos rapazes dava uma coça à Grècia de uns 4 ou 5 a zero. 'A distancia fico com os cabelos em pée com as afirmaçoes de desilusao e cansaço de Figo e Rui Costa. O lixo continua a ser valorizado em Portugal

quinta-feira, julho 01, 2004

CERN: Não pagaaaamos, não pagaaaamos!

A situação de não pagamento de quotas já aqui descrita em relação ao European Southern Observatory (ESO) repete-se no caso do CERN. Enquanto o país anda anestesiado pelo futebol e pela novela Santana Lopes, a credibilidade científica de Portugal está a ir vertiginosamente pelo cano de esgoto abaixo. Todo o capital de confiança que os investigadores portugueses conquistaram a pulso, resultado após resultado, artigo após artigo, está neste momento a ser completamente desbaratado junto das grandes instituições internacionais científicas. Não é difícil imaginar um alemão do ESO ou um suíço do CERN a troçar das nossas proezas futebolísticas: "para isto é que eles têm jeito, agora fazer ciência a sério é para esquecer".

Quando fiz o meu doutoramento em Estrasburgo rapidamente percebi que os portugueses têm uma péssima reputação nos domínios da ciência e da tecnologia. Cheguei à conclusão que a melhor estratégia era apresentar resultados sempre acima das expectativas das pessoas que supervisionavam o meu trabalho de investigação para não ter problemas originados por ideias pré-concebidas sobre os portugueses. Fiz um esforço suplementar para tentar dar outra imagem dos portugueses. E correu bem. Durante a discussão da minha tese houve inclusivamente elogios ao esforço que Portugal estava a fazer para recuperar o atraso na produção científica (mal sabiam eles...). Como eu, muitos investigadores portugueses saíram do país e fizeram um esforço semelhante para mudar a imagem do país no estrangeiro. Muitos de nós regressámos a Portugal entusiasmados com a possibilidade de dar o nosso contributo para mudar a imagem do país. Neste momento eu e muitos colegas sentimos um desânimo profundo. O que está a acontecer é um pesadelo para quem fez um esforço suplementar para mudar as coisas. E há que referir que estávamos a conseguir, basta consultar as estatísticas de produção científica dos últimos anos. Agora fica a sensação que voltámos à estaca zero.

O pesadelo do não pagamento de quotas tem uma parte III, é a Agência Espacial Europeia. Neste caso temo que as sanções possam ser mais severas que o caso do ESO.